A COP28 morreu. Viva a Póvoa em Transição! #4

A ação climática vai no adro. No passado dia 30 de novembro a Assembleia Municipal aprovou a constituição da associação “Póvoa em Transição – Associação pelo Clima da Póvoa de Varzim”. Levantaram-se questões pertinentes sobre a importância de existir um Centro do Clima. Aqui fica a resposta possível.

Antes de falarmos do Centro do Clima, vamos às COPs. Terminou na semana passada mais uma, a COP28. Desta vez foi no Dubai que os países de todo o Mundo se reuniram para debater as alterações climáticas. Assim como o Dubai parece retirado de um qualquer filme futurista, também esta COP foi profundamente surreal. Liderada por um magnata do petróleo que não acredita na relação entre combustíveis fósseis e alterações climáticas, o desfecho estava definido à partida. Mais uma vez ficou (lamentavelmente) claro que as elites mundiais não são capazes de resolver o problema. Como nos alerta Al Gore, que foi Vice-Presidente dos Estados Unidos e por isso sabe bem do que fala, as nossas democracias foram pirateadas pelos interesses económicos.

 

Vamos à Póvoa de Varzim. Após uma aprovação unanime na reunião de Câmara, no passado dia 30 de novembro a Assembleia Municipal aprovou a constituição da associação “Póvoa em Transição – Associação pelo Clima da Póvoa de Varzim”. Esta associação irá ser responsável pelo Centro do Clima que iniciou trabalhos no passado mês de julho. Foram colocadas duas questões pertinentes na Assembleia – mas afinal o que é isto do Centro do Clima? E porque haveria a Póvoa de investir na ação climática se o seu contributo para o problema (e para a solução) é tão pequeno dada a dimensão global?

 

Vamos à primeira questão. O Centro do Clima é um “centro colaborativo de experimentação em ação climática e resiliência comunitária”. Um “centro” no sentido de que se trata de uma infraestrutura concreta, com uma equipa focada nos esforços de desenvolvimento regenerativo da região, concebendo e dinamizando projetos modelo. “Colaborativo” no sentido que é sustentado e dinamizado por um conjunto simbiótico de organizações e indivíduos que partilham recursos e trabalham para uma agenda de fins comuns. “Experimentação” porque se assume que se pretende um foco na investigação-ação, uma abordagem rigorosa e que potencia o melhor conhecimento científico existente, aliada ao foco em intervenções operativas que realizem mudança concreta, tangível e duradoura.

 

Adotamos um foco na “ação climática” porque as alterações no clima são o sintoma mais paradigmático da nossa insustentabilidade. São uma consequência de praticamente todas as atividades humanas e geram impactos profundos na natureza e na sociedade. Estes impactos poderão estender-se por milénios, obrigando a estratégias de mitigação (redução de emissões e captura de carbono) e de adaptação ao crescente colapso climático.

 

O critério fundamental para as intervenções recai na sua capacidade de contribuir para a “resiliência comunitária”. Este conceito traduz a capacidade de resistir a choques imprevisíveis que advém de uma comunidade coesa e solidária, enraizada no território, conhecedora e orgulhosa das suas origens, motivada e capacitada para regenerar recursos e gerir a transição. Por outras palavras, uma comunidade com elevadas competências adaptativas.

 

Muito teórico, certo? Vamos a coisas práticas. Lançamos a rede de Bosques pelo Clima, espaços florestais que podem resistir melhor aos incêndios, prevenir cheias, proteger a biodiversidade e gerar receitas nos novos “mercados de carbono”. Estamos a lançar Comunidades de Energia Renovável para tornar a Póvoa dona da sua própria energia, garantindo ao abastecimento a preços controlados numa época de incerteza. Foi criado um grupo de cidadãos que está a dinamizar formas de mobilidade ativa e estamos a trabalhar com os ‘jovens pelo clima’. Na semana passada lançamos o programa “Escolas sem Plástico”, como resposta a um desafio da Associação de Pais e Amigos do 1.º Ciclo e Jardim de Infância de Rates.

 

Em 2024 iremos iniciar projetos na área da alimentação, apoiar as organizações no seu processo de transição, lançar um documentário, abrir um espaço de economia circular, preparar um plano municipal de ação climática de forma participativa e muitas outras coisas. Acima de tudo queremos responder a todos os desafios que nos lançarem, fazendo crescer a ambição e o impacto das ideias – ou não estivéssemos em ‘emergência climática’.

 

Vale a pena o esforço e o investimento, como foi questionado na Assembleia Municipal? No contexto atual, procurar garantir acesso livre a energia barata e renovável, proteger a nossa soberania alimentar e os recursos hídricos, apoiar as empresas nos mercados emergentes, preparar a comunidade para lidar com eventos climáticos extremos… não devem ser encarados como objetivos menores e muito menos como uma causa perdida. Seria demasiada irresponsabilidade, para com as gerações atuais e futuras e o todo da Vida no Planeta que nos sustém.

 

Não será a COP29 que nos vai ‘salvar’. Será a nossa capacidade de perceber que cada cêntimo investido em ação climática tem um altíssimo retorno em qualidade (e garantia) de vida para os Poveiros. E com tantos fundos climáticos existentes, seria uma tolice não os aproveitar. O grande objetivo do Centro do Clima é alavancar o movimento “Póvoa em Transição” – o que vamos fazer juntos em 2024?

 

Pedro Macedo, coordenador do Centro do Clima da Póvoa de Varzim

Crónica publicada no Jornal Mais Semanário

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